terça-feira, 19 de outubro de 2010

poema para Ofélia

Imagem de fundo:
[Carta, 1920, Lisboa a Ofélia Queirós, Lisboa / Fernando Pessoa]. — 1 p. : 2 colon. ; 20,8 x 26,8 cm
Autógrafo a lápis. — Rascunho de carta iniciada no verso de dactiloscrito com poemas em língua inglesa, um deles datado de «28/XI/1920», continuando no recto, na margem esquerda, na vertical. Carta de ruptura do namoro, iniciado há precisamente um ano, em resposta à que lhe foi enviada por Ofélia, que lhe provocou «pena» e «alívio»: «Estas coisas fazem sofrer, mas o sofrimento passa. Se a vida, que é tudo, passa por fim, como não hão-de passar o amor e a dor, e todas as mais coisas, que não são mais do que partes da vida?». E no final, referindo-se a outras afeições possíveis, diz: «Que isto de “outras afeições” e de “outros caminhos” é consigo, Ofelinha, e não comigo. O meu destino pertence a outra Lei […] e está subordinado cada vez mais à obediência a Mestres que não permitem nem perdoam». — O original, com variantes em relação a este rascunho, datado de 29 Nov. 1920 e assinado por «Fernando», foi publicado em Cartas de amor de Fernando Pessoa. Org., posf. e notas
de David Mourão Ferreira. Lisboa: Ática, 1978. P. 131-133.
BNP Esp. E3/1143-86




Se Ofélia fosse bonita
Fosse quem sabe donzela
Não seria mais formosa
Nem outra Ofélia mais bela

Não fosse Ofélia dos sentidos
Dos poemas e do pensar
Que Ofélia seria (de)lírios
Meu jardim à beira-mar!!!

Musa servida em verso
Aos olhos do seu poeta
Livro-mulher, aberto
Em página que já não resta

Senão sonho, senão Ofélia
Eternamente por escrever
Houvesse Ofélia mais bela
Ofélia de me querer

jorge du val

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